Dr. Humberto Calicchio
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Psiquiatria & Psicoterapia
em Campinas
Tristeza ou Depressão?
Histórico
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Melancolia: Hipócrates a descreveu como a bile negra, como um estado de aversão a comida, desespero, falta de sono, irritabilidade e inquietação.O baço secretaria bile negra que escureceria o humor através de sua influência sobre o cérebro
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Além da melancolia natural , surgida da disposição inata a produzir bile negra em excesso e que levara a uma forma mais severa de doença, a medicina greco-romana reconhecia contribuições não naturais para melancolia como consumo imoderado de vinho, perturbações da alma devido as paixões, ciclos perturbados de sono. O Outono era a estação mais propícia a melancolia.
Areteus de Capadócia – 150 DC
A respeito da cura de um jovem que sofria de melancolia incurável, quando recebe o amor de uma mulher: “ em minha opinião esteve apaixonado por ela, mas como acreditava que ela não se interessasse por ele, tornou-se triste, disfórico... Quando porem conseguiu expressar seus sentimentos e sentiu-se correspondido, sua tristeza, disforia e raiva desapareceram.. Nesse sentido o amor é o médico”
Edward Synge (1659 – 1741), arcebispo de Tuam diferenciando uma melancolia endógena de uma reativa.
A melancolia pode ser removida, aliviada, e seu retorno pode ser prevenido sob uma rigorosa avaliação da nossa vida...
Quando nessa adequada avaliação... Nenhuma razão é encontrada, sua melancolia nasce de uma indisposição do corpo. Muitas vezes, porém, quando o corpo não mostra essa indisposição, essa melancolia ... Ocorre por apreensões que acometeram a mente.
Luto e Melancolia, Freud, 1917
“O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos de que essas pessoas possuem uma disposição patológica. Também vale a pena notar que, embora o luto envolva graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre considerá-lo como sendo uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico. Confiamos em que seja superado após certo lapso de tempo, e julgamos inútil ou mesmo prejudicial qualquer interferência em relação a ele.
Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição.”
Epidemiologia
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Risco para transtorno depressivo maior durante a vida:
10 a 25%: mulheres
5 a 12%: homens
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Prevalência:
5 a 9% mulheres
2 a 3% homens
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Há indícios que não há relação com etnia, educação, rendimentos ou estado civil.
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Pode iniciar em qualquer idade , situando-se a média em torno dos 25 anos
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Pelo menos 60% dos indivíduos com TDM episodio único tem um segundo episodio
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Cerca de 5 a 10 % dos indivíduos com TDM desenvolvem um episodio maníaco
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Os episódios depressivos maiores podem terminar completamente em 2/3 dos casos ou parcialmente ( ou não terminar) em 1/3 dos caso
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Padrão familial: 1,5 a 3 vezes mais comuns entre os parentes biológicos em primeiro grau de pessoas com este transtorno que na população em geral
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Indivíduos com TDM grave que morrem por suicídio chegam a 15%
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O índice de mortalidade em indivíduos com mais de 55 anos pode ser quatro vezes maior.
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Em indivíduos atendidos em contextos médicos gerais, aqueles com TDM tem mais dor e doença física e uma redução do funcionamento físico, social e de papeis.
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Estudos sugerem que eventos psicossociais podem exercer um papel mais significativo na precipitação do primeiro ou segundo episodio depressivo e terem papel menor nos episódios subseqüentes.
Caso Clínico
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PMC, 35a, casado, sem filhos, engenheiro.
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Dois meses após a separação conjugal o paciente passou a apresentar crises de choros freqüentes. Começou a faltar no trabalho, contradizendo seu histórico de assiduidade. Passou a se sentir triste e desanimado a maior parte do dia. Emagreceu cinco kg em um mês. Achava-se penosamente culpado pelo fim de seu casamento, passando também a sentir culpado pelas mais diversas agruras sociais. Não se sentia merecedor de nada. Achava-se a pior pessoa do mundo. Nada lhe dava prazer. E nada mais teria solução.
Escutar o choro.
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Não nos apressemos.Não deixemos que a exigência de soluções rápidas e efetivas prejudiquem nosso tempo ou disponibilidade para escuta
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Evitemos entender que há um “nível de funcionamento” normal para todos. Atenção às singularidades.
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Depressões leves podem e devem ser manejadas com psicoterapia
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Entendamos que os anti-depressivos são drogas eficazes. As drogas utilizadas em psiquiatria são de 2 a 3 vezes mais eficazes do que o placebo e tão efetivas quanto a penicilina para pneumonia pneumocóccica ou estreptomicina para tuberculose (Davis; Wang; Janicak, 1995). Porém, não são isentas de efeitos colaterais ou interações medicamentosas. Reservemô-las aos casos que realmente necessitam.
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-Io,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter mais esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Alberto Caieiro.
Critérios para Episódio Depressivo Maior – DSM IV
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma alteração a partir do funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor.
(1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito).
Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável
(2) interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados
(4) insônia ou hipersonia quase todos os dias
(5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento)
(6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias
(7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente)
(8) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros)
(9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio
B. Os sintomas não satisfazem os critérios para um Episódio Misto
C. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipotiroidismo).
E. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.
Tristeza ou Depressão?
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Uso indiscriminado da palavra depressão para descrever nossos sentimentos. Podendo ser sinonímia dos mais diversos processos como: luto normal, ansiedade não patológica, angústia, estresse, cansaço...
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Assimilação social do termo “depressão” como algo aceito e permitido.
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Nomeação dos mais diversos processos patológicos como “depressão”. O paciente esquizofrênico diz: “Doutor tenho depressão há muitos anos”, referindo-se a seus delírios persecutórios
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Ao paciente nomear seu sofrimento como depressão devemos sempre pormenorizar os sintomas. Atentemos ao discurso daquele sujeito, avaliando a subjetividade da depressão enunciada. As “depressões” nunca são iguais.
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Assimilarmos que termos “dias ruins”, chorarmos, angustiarmos esporadicamente é algo que faz parte da existência humana.
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Escutar o choro, o desabafo e a desesperança como forma de expressão, evitando a prescrição rápida e indiscriminada de soluções imediatas.
“O consumo de Prozac (fluoxetina) está tão elevado no Reino Unido que está presente inclusive na água de consumo doméstico, segundo revelou a Agência Britânica do Meio Ambiente.
A fluoxetina está sendo encontrada em quantidade crescente nos rios e na água de consumo doméstico, explica a agência, até o ponto de que se mantenham reuniões com os responsáveis da industria farmacêutica para estudar as possíveis repercussões do fenômeno nos consumidores e no meio ambiente.
A Agência Britânica de Água considera que o fármaco está tão diluído que há um risco mínimo para a saúde. “É muito pouco provável que haja um risco porque este tipo de droga aparece em quantidades muito pequenas”, afirmou um porta-voz da agência .”
Publicado em 10/08/2004, Jano-online e Agências